Kafka

um homem de três caras sentado numa poltrona de pedra, contempla passado, presente e futuro, de compasso na mão direita e livro na esquerda

Grito como um possesso
Que quer rasgar a realidade.

Grito a ver se furo esta existência... de eterno sofrimento.

Grito para dilacerar as amarras que me constringem, amarras que caminham em mim desde o primeiro suspiro.

Outros, de olhos brilhantes, veem em mim, vítima fantasiada...

Eu sou dragão, feito do bolsar negro dos nefários lobos que devoram as esperanças de quem loucamente sorri.

O meu piano, velho e poeirento, respira tetricidade, compassiva com o vazio do meu espírito carnívoro...

Cada tecla que toco,
cada caixão que à terra baixa,
ecoa em negrura eterna... do grande nada.

Serei eu culpado? Serei eu o maestro que, com a sua batuta, dita o fim?

Espreitei para o outro lado
e sorri para o Nada.

Hiperbóreo... superior... animal... sem trela ou cordão... dono... sem ninguém que me ponha a mão.

Solto... perigoso... aterrador... predador...

Sou oceano onde mergulhas... para te purificares... e conspurcares.

Sou violência carente de ternura.

O Criador que Monstro virou, que em Tanatos se inspirou, prostrado permaneceu, a aguardar o parar do relógio. 

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Cara de plástico