Canibal

Todos os dias ao acordar, despes-te na minha mente, nos meus desejos, na fome que me faz

fantasiar

tocar

satisfazer-me

ao imaginar-te de faces rubras, em vertigem de clímax.

Tu, ser sem tempo ou local, em quarto de devorações eternas, onde te deito e cheiro a pele, sedento por te beijar.

Inalo-te, cocaína-mulher,

como sequioso por Baco,

inquietado pela tua possessão.

És-me nutrição que me faz crescer, em carne pronta para te consumir em sacramento,

no sangue de Eros.

Toda tu,

amarrada nos meus quereres e domínios, pronta a subjugares-te às minhas vontades.

Guio-te pela mão, apreciando-te em quadro de renda fúcsia, enegrecida por minha perversidade, o rubro dos teus lábios prontos a satisfazê-la.

Ajoelha-te,

reza-me em Sade.

Ajoelhas-te,

faz-me derreter como vela na tua chama,

na tua boca,

bordel de danação,

sucção, perdição.

Sentada sobre as tuas pernas, em pronta obediência, olhos de inocência mascarada, fixos em mim...

o grande corruptor.

Na ponta dos meus dedos enquadro o teu perfeito queixo, pequena promessa na tua boca semiaberta que me obedece em leve revelação, em carinho hediondo,

prelúdio de língua,

húmida e vermelha, que me aguarda em sabor.

Sopro-te um murmúrio...

"Lento..."

Os teus lábios abraçam-me, seguidos do calor em cetim, neste paradisíaco inferno de falaciano palácio.

Acolhes-me...

religiosamente,

veneravelmente,

carnivoramente.

A fome não se extingue só com o nosso devorar.

Aprisiono-te em mãos obscenas,

em ritmo de usura,

luxúria,

lascívia,

cópula onde me sentes,

em pulsar,

nos teus lábios, no teu salivar que nos une em fluídica troca de obsessão.

Serves-me esse teu lugar de poder, de reconquista e falsa submissão, para onde me perco, ensandeço, permaneço antes de vir...

libertação

por ti ansiada, em que te vibra, ocupa,

fecunda palavras não proferíveis

com as quais se escrevem inarráveis impulsos animais sobre atos furiosos de sofreguidão.

Deixo-me em ti, completamente por ti,

e a mim me recebes, mas a ti te encontras na tua real essência de quem se banqueteia sem

pudor ou

mente pequena e

sem réstia de culpa,

pelo contrário,

satisfeita, apenas por agora,

essa imensa gula

que nos faz viver...

nós,

os que se consomem sem que a fome se vá,

os que encontram amada perdição no pulsar da carne e não apenas no clímax,

aqueles que sorriem sob presença de desejado prazer

ou, ofegante, se enrola em torno de vida,

feito Lúcifer-serpente, de olhos dourados

Em todo o lado,

sou-te pornografia

quando te enroscas em mim

e me levas o cheiro

no teu desejo,

nas tuas unhas,

nos teus dentes.

Não consegues justificar o salivar por atrocidades canibais.

Leva-me à finitude nos teus lábios,

eternidade é a tua boca.

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Bicho-papão em cima do telhado