Depenar das Asas
A dor do amor não correspondido muitas vezes não reside na ausência física, mas na indiferença gélida de quem dorme ao nosso lado. Nesta peça de literatura gótica, exploramos o abismo entre dois corpos que partilham o mesmo espaço, mas habitam universos espirituais opostos. O eu-lírico confronta a angústia de manter a sua vitalidade e o seu desejo voraz perante um parceiro emocionalmente catatónico, descrito aqui como um 'eunuco negligente'.
Através de metáforas de ruínas e jardins ressequidos, estes versos dissecam a toxicidade do silêncio e o custo de oferecer rosas a quem tem as mãos fechadas aos espinhos. É um manifesto sobre a sobrevivência da alma perante a solidão a dois e o luto de um relacionamento que, embora vivo no papel, já se tornou num funeral diário de afetos.
Farricoco
A Arquitetura do Vazio
Na tradição da literatura gótica e do horror existencial, poucos temas são tão cortantes quanto o confronto direto com o abismo interior. Este poema não é apenas um lamento; é uma dissecação visceral da alma humana quando despida de ilusões sagradas. Ao explorar a morte de Deus — não apenas como conceito teológico, mas como o fim da esperança e da luz — os versos mergulham em um cenário lúgubre onde a inocência é devorada pela experiência traumática.
O eu lírico apresenta-se como um "homem de granito", uma metáfora poderosa para a insensibilidade adquirida através da dor e do isolamento. Através de imagens de suicídio simbólico, decadência física e canibalismo espiritual, a obra questiona o que resta quando a moralidade se dissolve nas sombras. Esta é uma peça de poesia macabra destinada aos que buscam compreender a estética da escuridão e o peso esmagador da consciência solitária. Prepare-se para encarar o breu.
Meia-Noite e Meia
Existe uma diferença abismal entre ser olhado e ser visto. Ser olhado é um ato passivo, superficial; ser visto é uma invasão consentida, uma validação da existência.
Nestes versos, a voz do 'amargurado sonhador' não pede apenas amor — exige reconhecimento. É uma lista de requisitos para a rendição, um mapa traçado para um 'Alguém' que tenha a coragem de admirar sem idolatrar, e de tocar a alma sem a 'lacrar' em definições estáticas. Esta é a minha linguística obsessão: a procura pela Testemunha perfeita.
1 A.M.
Há dias em que a própria luz do sol parece uma ofensa à escuridão que carregamos no peito. Neste texto, dispo a alma de artifícios para tocar na ferida aberta da existência — aquele lugar onde o amor é a única âncora que nos impede de ceder à gravidade do vazio. Entre o cheiro a arsénico e a poeira real dos dias, fica o registo de uma luta silenciosa, travada na ponta de uma faca e no berço de um filho.