Farricoco

a black and white picture of a man, in a suit. the man is half stone, half human, and in the background there is a cemetary

Inspiro breu

negrura preenche-me os olhos

o coração canta morte

Silencia-me a escuridão

As estrelas abraçam-me, em silêncio e memória

A sofreguidão da corda em pescoço…

da altura mensurada por abismo para onde me atiro

Aromas férreos e madeira que range

Um cadáver habita-me a garganta

Tiro que rebenta

Faca que penetra

ejaculação violenta de homicídio fecundado

Vazio…

mata…e sente…e come e morde a carne…

do cordeiro

O que há na morada paternal, a salvo por anonimato

dEUS morreu

a luz perdeu

Os que andam pela noite herdaram a terra aos

incautos

Levianos

Puros

mas…

negligentes…

Ninguém mira o lixeiro…

passa esquecido o cangalheiro…

ninguém nota o calado…

que te arranca um beijo….

negro…

de podridão em ti acumulada.

Nasci de doce sorriso,

amargura quando se me abateu o destino

Quarenta e um.

E nesses quarenta, apenas um

Eu, comigo e só.

Os tresmalhados lá fora…

os balidos ecoados nas ruas de fé.

Não os digiro

Nao os consigo tolerar

Meus dentes…tingidos no rubor da Inocência que mastigo…na sombra de remorso

Coloco em funeral o que fui,

em extrema-unção o que poderia ter sido.

Há, no visível mundano, um homem de granito…

que, sisudo por luto,

sorri por castigo.

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