Centelha na Noite
Os limites da minha tirania no horizonte do teu corpo…
A fronteira da escuridão no toque do teu sorriso…
Existência arrancada à consciência, no enlaçar das nossas línguas…nó de beijo, que se imbui em nós.
A sofreguidão, emudecida em toque fugidio…conexão efémera…fantasiosa…de delírios que ecoam pelo corpo.
O encarnar de dentes no olhar que nos lambe…
E em frente a mim…
tu
que se quer acarinhada,
ouvida
amada
desejada
consumida
usada
que se quer feita mulher no corpo de quem…
é luxúria
é amor
torna carícia em ignição
e catalisa, nesta desbotada existência…
paixão.
Caminhas…levando o bater do coração em cada passo…
anca em movimento…balanceando lágrimas-feitiço de promessas carnívoras
Os teus olhos ancoram-se aos meus…
ponte de luares oníricos…
e nós repletos de cetim…
abraçados no calor fluídico que nos faz deslizar um no outro,
como Prazer sobre Desejo.
Que mais resta?
Escuta-te no teu cheiro, nas profecias auto-realizadas que humedeces…
és mais feliz que outros,
os que não sonham, os que não vivem…
os que deambulam, mortos, procurando a prosa de epitáfio pré-mortem.
E esses, os medíocres ... odeio-os, pela lâmina castradora com que estraçalham o sagrado..
o criador,
o fecundador,
o sexual…
matam-nos com beijos de vitríolo…
os costumes
a copulação da procriação
do missionário
da luz apagada que envergonha o corpo sagrado
da palavra não dita e da postura rígida
proíbem-nos às fragrâncias da pele,
abominam a vontade febril
adormecem na estupidez da falta de vontade de poder…
Rasga-se a nossa essência em queda vertiginosa, timbrada pelo compasso mortificante do medíocre corriqueiro…
Lampeja-nos, na estrada escura, a conexão que nos sustenta, acima do abismo condicionante, do que nos é negado por rouxinóis, que felizes cantam o hino da negligência
Quando me guias, nesses caminhos familiares onde somos um pouco de nós,
não somos um no outro,
não somos um com o outro
somos um e outro
por momentos, na natureza que nos foi dada
em piada cruel desta vida
Os meus lábios estão negros….amortalhados pela morte…
O meu toque, pousado no teu recanto, anseia pela tua procura, para que me libertes deste caixão onde estou, de onde não sairei, onde recordo a profusão de nós.
Uivamos na dor pela lua que desejamos.