Lucille Imperia Califórnia
Lucille Imperia California
Aprisionado em cone de sonhadora luz lunar, ele saboreia o odor a veludo da escuridão em redor.
Algo mais se exala da negrura…exótico, envolvente…
as feromonas d’ela…
a devoradora,
a liberta,
a Grande Copuladora
Das profundezas do quarto, trinco de porta estala
desperta-o de torpor onírico
sobe-lhe ansiedade ao peito
sente o sexo formigar, inchar…na procura por apaziguamento em colo quente, na doce aceitação onde se pode exercer, bruto, completo, lascivo…
Passos de stiletto agudo...lentos no avanço,
mestres do Tempo, do Destino, dados pela rainha carnívora de todas as coisas consumidas…
A silhueta que o rende a ânsia de toque, afigura-se difusa nas sombras, no meio de aura enevoada por ofensa capital às tribos de um dEUS leproso.
A Imperatriz flui por entre milhares de almas contorcidas em eterno êxtase…
Toda ela se escreve libertina - pura no que quer, deseja, sente…
Suor lascivo emana-se de pele mármore-leite, desorienta o homem amarrado a uma cadeira, outrora elétrica e executora, preparado para consumo pornográfico.
Ar não lhe acode a vida,
oh… apenas o fantasiar com a textura dela, com o dançar de ancas que nunca viu a descoberto…e saber-se submisso perante as investidas daquele ser…
Demasiado…
a febre toma-o ...ele está pronto, pulsante e sequioso…saliva-se na fantasia de lhe beijar os lábios …do mundo se fechar em abraço de coxas molhadas por manifestação de apetite…
Oh…violento, sufocante apetite…
“Prova-me sem nunca acabar.” - o sussurro ecoa pela sala? Vindo dela? Não.
Do interior da sua mente? Ele desejou? Não.
Ela ordenou?
Não interessa, neste ritual a voz é muda, a carne manda.
Ela dá-se em adorado sacrifício por coisas sem nome, que nos devoram por dentro e nos matam desta vida.
Dois passos mais…o corpete negro brilha, baço no leitoso encanto da lua que entra pela janela.
A deliciosa excitação de expectativa...a curiosidade do perfume, complementado pelo sabor desta senhora que se oculta em fetiche espiritual…
O prisioneiro é invadido por violenta missão…
ela quer-se provada
mordida
satisfeita em fantasias compulsivas, onde uma mulher dança pelos apetites que lhe marcam passo ao divino climax….
Ele anseia por testemunhá-la nesse momento, nesse silêncio…nesse canto de redenção final, onde em tremor ela se liberta em prazer que lhe infecta o corpo e lhe apaga o norte…
momento onde um gemer abafado acontece e a liberta da miséria de coisas mundanas e medíocres, da tacanhez dos que se julgam homens, mas se realizam vermes na poeira do dia a dia.
A paixão de início de penetração arranca-lhe um suspiro nervoso....
oh...se é assim apenas por imaginação…
oh, quando o prazer o invade… as palavras, o amor, a razão…nada interessa, tudo empalidece pela urgência de mais um beijo manifestada em cada suspiro,
um sussurro,
oh…
uma aceitação em carne, marioneta de coito e pulsação
“Faça-se eclipse pelo teu sol na minha lua, onde me torno cinza quando em mim te espraias e me incendeias o ventre.” - ela ecoa-lhe em obsessão febril, sonâmbula, que lhe domina a vontade e lhe preenche o cérebro
A mão....duplamente anelada no indicador, rompe o luar, expõe-se à atenção da presa...crava-se, qual lança carnívora no pescoço da refeição humana.
Um corte… gota de sangue rubro lubrifica unha negra.
Lucille Imperia Califórnia sufoca-o, mão firme, domínio visceral de amada libido…
Aperta
o
pescoço…
Faz-me
sentir
a tua
violência…
consome mais que o meu corpo…
come-me…a alma!
O rosto pálido avança-se ao ouvido…de boca aberta, adivinhando caninos em marfim, por trás de lábios vermelho-sangue.
Ela ronrona-lhe em brisa de verão quente:
-”Hoje serás devorado, possuído, consumido… Cheiro-te todas as mulheres que na tua pele se esfregaram...e do teu coração ouço ecos de lamento, oriundo da tua solidão.” - regurgita-lhe - “eu sou a resposta ao que queres que te seja feito” - segreda-lhe, rouca por febre carnívora.
Senta-se sobre ele ...estremecem-se na lenta fusão, no reencontrar, no reconhecimento secular de algo que nos pertence…e neste instante sentimos.
Ancas amarradas por cinto de ligas onde no cabedal corre o julgamento da sociedade, o agrilhoar por homens incompletos
inseguros
pequenos
imaturos
afivelados por mulheres ignorantes
frustradas
negligentes
tudo isso permeia-lhe a pele-disposta-a-ser-lambida das coxas que o enquadram na anca pronta a dissolvê-lo.
Tudo isto é declaração de libertinagem, tudo isto é feminino e imortalidade.
Meretriz é uma mulher que come sem perdão por nada haver para perdoar.
Puritana é mulher que se ilude, canibaliza-se com silêncio, para com nada se saciar, preferindo
ocultar
secar
murchar
definhar
Ele sente-a, quente no ventre demoníaco, que o chama em exorcismo,
em contorção, quando ela se encosta, e lhe devora a boca em beijo carnívoro, em espera por dança alucinada.
Ele saliva-se, desespera, espira…
Alucina-lhe novamente ao ouvido: - “A pressão dos nossos pontos de conexão equilibram-se quando te cheiro, me cheiras e nos beijamos, quietos, em doces lábios teus, que recebem os meus em exclamação, quando me chupas a língua.”
A necessidade de ser tocado, amado, aceite....em comunhão de carne e espírito.
Entre espírito e corpo não há dissociação...pensar-se o contrário…é estar partido, dissonante, desconstruído.
-”Cada nó desta rede que me cobre as pernas, que na sua prisão te libertam, enforcou homens que me quiseram afogar a minha natureza…homens que matei por não me amarem com o respeito de me fazerem sentir liberdade no meu amor orgásmico…” - Lucille proclama-lhe, a ele, que se revive no seu útero trágico de solidão.
Ele arfa, suspira contra o peito da amante…na amnésia que o destrói…na sofreguidão da inalação de cada milímetro desta criatura que, como o mar no embalar das suas ondas, ondula a anca, com ele, profundo em navegação, dentro dela, e ela tempestiva na sua envolvência….
A ascensão chega-lhe, as pernas apertam-se em torno dele, um pouco de Lucille cobre-o, luz-lhe a pele que lhe escreve mistérios na alma.
Califórnia em climax é purga facista do que dela é por direito, agora, já!
Mais!
Mais dele!
Encosta!
Espreme-se contra o corpo convulso do homem que a serve, esmagando-se contra o suor, desesperada por preencher o vazio e matar a dor…
A impossibilidade de nele se fusionar…de se tornarem um, e sentirem-se mutuamente, um do outro, um no outro orgasmar…ensandece-a…
Demasiado não é suficiente!
Ela contrai-se…aprisiona-o na fricção de um quase que lhe desenha sorriso em boca criada para degustação.
“quase…mais um pouco…mais uma contração, mais de ti, dentro de mim…” -a voz, quente e delicada de Lucille lambe-lhe a percepção… a pouca que lhe sobra…
oh…apenas assim se está perto de dEUS, e nem Ele conhece a divindade feminina
Ela está em todo o lado…
Lucille Imperia Califórnia mata o Paraíso…e Ele venera-a por isso.
Ininterrupta na impaciência do seu baloiçar, ela sorri…porque a Existência neste Plano encontra felicidade na íntima poesia que flui sem rima ou métrica…
ele sustém-se…em respiração e movimento…
tensão impossível…
de…
conter…
Libertam-se…ele nela…e ela…em redor dele, em ondas de calor que se propagam em mais prazer, ecoando em fome insatisfeita…
Ela é a noite, ele, o silêncio do beijo suado que lhe dá no peito molhado por suor de retardado orgasmo…
dois querubins negros na desgraça de céu corrompido.